sábado, 24 de março de 2012

De como não contar piada


                           A escola de Mercadante



      Causou-me espanto a declaração dada há um tempo atrás pelo ministro Aloizio Mercadante. Disse que problema da educação brasileira é que o aluno está no século XXI, enquanto os professores ainda permanecem no século XX.
       Ora, em que século está um ministro que acha que a educação pública se restringe ao binômio “professor/aluno”?
       Em que século está a escola oferecida pelo poder público? Onde as salas de aula são baseadas em velhos modelos, semelhantes a celas. Onde faltam recursos simples como iluminação. As lâmpadas são velhas fluorescentes em calhas podres e quase caindo, raras são as que ainda funcionam. Onde as carteiras são de ferro e fórmica, geminadas em cadeira e mesa: incômodas, desconfortáveis e apertadas. Onde as paredes são úmidas e mofadas. Onde os tetos possuem goteiras. Onde há perigos em que professores e alunos podem se machucar: pontas de ferro, pregos, maçanetas quebradas etc. Onde não há sequer água filtrada. Onde não há um serviço eficiente de manutenção. Onde a merenda é insuficiente e ruim, sem a presença tão importante de uma nutricionista para orientar quem a faz. Onde uma sala de recursos pedagógicos é um sonho distante.
    Em que século está uma escola onde somente professores e alunos atuam, abandonados e esquecidos? Encerrados em si mesmos.
      Em que século, senhor ministro, está uma escola, onde não há um psicólogo, um assistente social, um pedagogo, um psicopedagogo, um fonoaudiólogo? Profissionais que sabemos por demais importantes em um processo de educação e de ensino-aprendizagem. Sem falar em uma mínima assistência médica e odontológica, para aqueles que ali estudam e não podem pagá-la.
      Em que século está uma escola onde os profissionais que ali atuam são obrigados a uma jornada absurda de trabalho, chegando mesmo a três turnos diários, para ter uma remuneração indigna e aviltante? Como ficam a família e saúde desses profissionais? Garanto que a sua família e a sua saúde vão muito bem, senhor ministro.
         E ainda falei pouco.
     Em que século está um governo cujo ministro da Educação pensa assim?
         Em que século está o Brasil?
   Ora, seu ministro, sua anedota foi profundamente infeliz e preconceituosa, para não dizê-la ofensiva. A sociedade não achou graça nenhuma.





Um comentário:

  1. Magnífico. Suas palavras representam muito ou realmente tudo aquilo que cada um de nós,profissionais da educação e cidadãos conscientes de nossos deveres gostaríamos de expor, mas por vezes acovardamo-nos.
    Ana Regina

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